LEITURA, ATIVIDADES MANUAIS E JOGOS DE TABULEIRO AJUDAM A PREVENIR O “BRAIN ROT”

01 de dezembro de 2025, 11:49

Com iniciativas simples, Instituto JCPM em Aracaju busca reduzir o uso de telas e contribuir com a socialização e o pensamento criativo dos alunos*. O Brasil é hoje o 2º país do mundo onde a população fica mais tempo on-line, com média de 9h13 por dia. Segundo o Relatório Digital 2024 da We Are Social e Meltwater, estamos atrás apenas dos sul africanos. Isso significa que passamos mais tempo conectados do que dormindo. Temos cerca de 6,4 horas de sono por noite, quando o recomendável para os adultos é de 7 a 9 horas. Entre as consequências desse excesso estão sintomas típicos do que os especialistas chamam de “brain rot” — uma espécie de desgaste mental silencioso. Problemas de sono, solidão, baixa autoestima, ansiedade e depressão são algumas das consequências para quem passa a maior parte do dia conectado e nas redes sociais. O Relatório Digital 2024 aponta também que o Brasil ocupa a terceira colocação no ranking de uso das redes sociais. Durante as 17,6 horas em que fica acordado, o brasileiro passa mais da metade do tempo conectado à internet e 3h37 desse período são dedicadas às redes sociais. É neste ambiente onde proliferam conteúdos e vídeos curtos, que se destacam pela capacidade de envolver os espectadores de maneira concisa e impactante. No entanto, pesquisadores apontam que, durante a visualização de conteúdos curtos e virais, é ativado o ciclo de dopamina, um processo neuroquímico associado à recompensa e gratificação. “Você tem essa satisfação que é rápida, mas não é duradoura. Então, cria um ciclo de dependência porque você quer, o tempo inteiro, estar feliz”, alerta a pediatra Kércia Alcântara. E esse ciclo pode prejudicar a capacidade de concentração e de reflexão profunda. Menos leitores:

Enquanto o brasileiro se conecta às redes sociais, há uma redução do hábito de ler. A 6ª Pesquisa Retratos da Leitura, realizada em 2024, revela que o Brasil teve uma diminuição de cerca de 6,7 milhões de leitores em quatro anos. Apenas 27% dos entrevistados terminaram a leitura de uma obra por completo em um período de três meses e a falta de tempo, o desinteresse pelo hábito e a preferência por outras atividades, como consumir conteúdos nas redes sociais, são os principais fatores que afastam as pessoas dos livros.

Mas há resistência. Na contramão desse movimento, alguns jovens têm buscado atividades manuais e outras práticas que estimulam a criatividade e as relações interpessoais. Em Aracaju, iniciativas como as do Instituto João Carlos Paes Mendonça de Compromisso Social (ICPM) têm auxiliado a juventude nessa jornada. A instituição atua contribuindo com a formação de jovens entre 16 e 24 anos, estudantes ou ex-alunos da rede pública de ensino. Além dos curso regulares que estimulam o pensamento crítico e os debates presenciais, os alunos têm a oportunidade de participar de oficinas de férias e outras atividades que privilegiam a leitura, as artes e outras habilidades. “Não se trata de vilanizar a internet, mas de ensinar a usá-la de forma consciente”, destaca Paula Libório, coordenadora de Projetos Sociais do IJCPM Aracaju. Crochê, jogos de tabuleiro e leitura: Para estimular a interação social e a criatividade, na área de convivência, há linhas, agulhas, lápis de cor, dominó e dama para a juventude ensaiar alguns pontos de crochê, colorir e se entreter.  A técnica artesanal tem conquistado a juventude. Outra atividade que tem atraído os alunos e contribuído com a mudança de hábitos é o Clube de Leitura. Os encontros semanais conduzidos pela instrutora Raquel Santana unem música e literatura e os jovens nem percebem as horas passarem. Criatividade e socialização Essas atividades promovem o que os pesquisadores chamam de “ocio criativo”: momentos desplugados que permitem a mente vagar, reconstruir-se, gerar ideias que não cabem em 15 segundos. Literárias, artísticas, contemplativas são pausas que nutrem a saúde mental, estimulam empatia, atenção sustentada, diálogo real. A proposta é reconectar-se com o outro, com o silêncio e com a própria imaginação. Isso não significa que as tecnologias digitais não estão presentes em sala de aula. “A internet, as redes sociais e a inteligência artificial são instrumentos importantes, inclusive no processo de aprendizagem. Em sala de aula, os jovens têm a oportunidade de conhecer como essas tecnologias funcionam e como utilizá-las de maneira crítica”, explica Raquel Santana. Essa abordagem tem ajudado os jovens a superarem desafios pessoais.